No baú da infância, a caixa de cores traz as tintas mais inesperadas. Cobalto, petróleo, metileno, genciana. São tantos os azuis, violetas. São tantos os nomes, os bichos, os lugares. Cada país, cada cidade, traz o sabor exótico das palavras que ilustram as viagens alheias – e depois as nossas. Teerã, Roma, Tóquio, Samoa. Nessa volta ao mundo, o tempo dos calendários pode aprontar surpresas, assim como o tempo da infância subitamente se configura em outros fusos, nas dobras da memória. Temos então este encontro marcado, com o presente, com a ausência: na Etiópia. Nossa guia, por estes caminhos aparentemente distantes, nos conduz por mais de uma viagem. Partindo de uma foto antiga de seu pai (guardada / numa caixa / de papelão), Francesca Angiolillo nos leva primeiro a viajar no tempo – entre as cores, sabores e sons ocultos naquele baú da infância, e pelos lugares, quadros, imagens e histórias de juventude, atravessando gerações. E só esta primeira parte, “Etiópia”, já seria um belíssimo livro de estreia para uma poeta. Mas a viagem continua, vai além. Nos dezessete textos que compõem a segunda parte, numa espécie de poema longo narrado em duas vozes, Francesca apresenta ao leitor a Etiópia real, que ela foi conferir com seus próprios olhos – as paisagens, as cenas, os monumentos, o choque das culturas, a visão do (e sobre o) estrangeiro. E este encontro com o outro é também um encontro com o pai: aquele encontro marcado ao qual nunca podemos faltar, e que fica sempre eternizado nas lembranças, no som da voz, na poesia. A Etiópia é aqui. Obrigado por ter vindo.